Uma caminhada de romeiros, repleta de intervenções culturais, saiu do Instituto Popular Memorial de Canudos (IPMC) até o Mirante Antônio Conselheiro, no município de Canudos, a 506 quilômetros de Salvador, e marcou neste domingo (8) o encerramento da programação da 36ª Romaria de Canudos 2023, cujo tema este ano foi a “Superação da Fome”.
Ao longo da semana, várias mesas de debates foram montadas, houve desfile histórico na avenida JK, visitas guiadas aos espaços de memória e históricos de Canudos e uma série de oficinas temáticas. Segundo Vanderlei Leite da Silva, presidente do IPMC, é importante despertar nas pessoas, que participam da Romaria, o exemplo que foi Belo Monte em termos de organização social. “Belo Monte foi o povoado liderado por Antonio Conselheiro e era considerado uma utopia cristã no final do século XIX. Como Belo Monte se organizava, como funcionava a produção, como se articulava o trabalho coletivo, como conseguiam ter acesso aos alimentos?”, questiona Leite, sugerindo também uma reflexão sobre a busca de alimento nos dias atuais e de que forma estão organizados os territórios, as comunidades nacionais, como é possível acessar as políticas públicas na Bahia e nos outros estados.
Em Canudos, há várias famílias em situação de fome grave. E a água ainda é considerada o principal alimento, segundo Cícero Félix, presidente nacional da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA), presente em Canudos. “A boa notícia é que vamos retomar, já no mês que vem, o programa de Cisternas. O programa de primeira água, para o consumo, e o segunda água, para produção de alimentos”, festeja Félix. Segundo ele, a meta de 1 milhão de cisternas de consumo já foi alcançada, mas, como a população aumentou, “estima-se que temos ainda 600 mil famílias sem acesso à água para consumo. E 800 mil não têm acesso à água para produção”.
Ele informa também que o edital do governo federal prevê a construção imediata de 51 mil cisternas de primeira água e cinco mil de segunda água. “Para a Bahia, serão construídas 10 mil de primeira água e mil de segunda”, diz Félix, acrescentando que “a Bahia representa um terço do semiárido do Brasil, tendo portanto uma demanda de 200 mil cisternas de primeira água e 300 mil de segunda água”.
“O governo federal já direcionou recursos no PAC para construir 250 mil cisternas nos próximos quatro anos. Vamos ficar ainda com um déficit de 350 mil, mas, se os gestores públicos e principalmente o Congresso Nacional, junto com os governadores do Semiárido, tiverem vontade política, nós podemos aumentar ainda mais os recursos previstos agora no PAC e universalizar o acesso à água em três anos”, avaliou Félix, com otimismo.
“Nós, da ASA, consideramos que a água é um alimento. Além de ser essencial para a vida, é fundamental para a produção de outros alimentos, por isso buscamos a segurança hídrica e a segurança alimentar”.