“Deus quer, o homem sonha e a obra acontece”. Com essa frase, atribuída ao poeta Fernando Pessoa, o coronel da Polícia Militar, Roberto Fiúza, tentou resumir a experiência vivida, nesta quinta-feira (09), durante a apresentação dos resultados alcançados pela Escola Família Agrícola (EFA) de Anagé, município localizado a 560 quilômetros de Salvador.
Organizada pela Coordenação do Programa Bahia Sem Fome (BSF), a agenda de visitas às EFAS faz parte da estratégia do governo estadual de levar toda a alta cúpula da administração para conhecer os projetos que estão fazendo a diferença no combate à fome na Bahia.
Ao lado do coronel Fiúza, do subcomandante geral da Polícia Militar da Bahia, coronel Nilton Machado, e do comandante de Policiamento da Região Sudoeste, coronel Ivanildo da Silva, o coordenador do Programa Bahia Sem Fome, Tiago Pereira, ressaltou a importância dessa agenda, que incluiu uma visita ao Centro de Convivência e Desenvolvimento Agroecológico do Sudoeste da Bahia (Cedasb) e às instalações do Programa Social Patrulha Solidária, em Vitória da Conquista.
”Acreditamos que, nos próximos anos, fortalecendo essas iniciativas, nós vamos efetivamente acabar com a fome na Bahia. Nós temos 1,8 milhão de pessoas passando fome e a participação das forças de segurança nesse processo será fundamental para obtermos êxito nessa luta”, disse o coordenador.
Com apoio do Cedasb, a Escola Família Agrícola de Anagé está implantando em suas instalações o Sistema de Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS), uma forma inédita de produção de alimentos dentro das escolas, cuja metodologia consiste na implantação de uma horta em formato de círculo, com um galinheiro no meio, integrando a criação de aves com a produção de hortaliças.
Adotando a pedagogia da alternância (15 dias em casa e 15 dias na escola), a rede EFA já existe há 20 anos, prestando apoio técnico, pedagógico e logístico às famílias agrícolas vinculadas a ela. “As pessoas voluntárias se doam para manter esse projeto em pé. Não é um trabalho simples, mas é feito com o coração. A Escola Família Agrícola é uma grande família, não se resume apenas a isso aqui internamente”, disse o diretor da EFA de Anagé, Aílton Palmeira, lembrando que todo o conhecimento adquirido na escola é replicado pelos estudantes em suas comunidades. “O sistema PAIS vai contribuir para a alimentação deles no internato e difundiremos a tecnologia para que eles possam aprender a produzir seus alimentos. A maioria dos 134 estudantes da EFA se encontra em vulnerabilidade”.
Multiplicador de Agroecologia
Tiago Pereira enalteceu a importância das Escolas Agrícolas para a construção de uma sociedade melhor e agradeceu aos monitores, professores e voluntários que vêm contribuindo para a consolidação desse modelo de educação nas zonas rurais.
“Vocês estão no caminho certo”, disse ele aos estudantes, destacando que já foi regularizada na Bahia a pedagogia da alternância. “Eu fui relator da resolução e do parecer no Conselho de Educação, sou egresso da EFA de Sobradinho e muito jovem fui multiplicador da agroecologia. Vocês têm de ser líderes comunitários, fortalecer o associativismo e cooperativismo. É esse o caminho”, frisou o coordenador do BSF, acrescentando que “todo mundo que está indo pra cidade grande está se frustrando, porque está inchada demais. O campo tem de produzir alimento e dignidade”.
O estudante Isaac Soares, que estava completando 17 anos nesta quinta-feira, disse que, desde a primeira turma da EFA na cidade, seus tios e primos estudaram na escola. “Me identifico bastante com a escola, porque eu moro na zona rural e ela tem mais a ver com a minha vida. Além dos conhecimentos gerais, temos diversas disciplinas relacionadas com o trabalho no campo. A gente não precisa sair da zona rural para procurar trabalho em outros centros urbanos. Aqui, trabalhamos muito com a produção de orgânicos, não usamos nenhum produto químico para tratar as plantas. A gente faz de tudo para não prejudicar o meio ambiente”, disse o estudante.
Laís Rocha Silva, 18, que estuda na Escola Agrícola desde 2016, destacou a importância da escola em sua formação para a vida, lembrando que se sente preparada para enfrentar os desafios. “Hoje, me sinto mais madura e consigo levar adiante tudo o que aprendi por aqui. São conhecimentos que replicamos em nossas casas e em nossas vidas. Tenho orgulho de estudar aqui. Nada é fácil, mas tudo se torna possível”, frisou.
Apoio da prefeitura
Presente no evento, o prefeito de Anagé, Rogério Bonfim Soares, disse valorizar a formação e toda a contribuição que os alunos das EFAs vêm dando às comunidades. “São estudantes que, quando saem formados daqui dessa escola, fazem um trabalho muito bonito junto às comunidades”, disse o prefeito.
A fala do prefeito emocionou o coordenador do Bahia Sem Fome. “É fundamental que as EFAs contem com apoio da Prefeitura de Anagé, pois as prefeituras sempre dificultaram o trabalho realizado pelas EFAs, muitas vezes deixando de fornecer caminhões pipas e o alimento a que tínhamos direito”, lembrou.
O subcomandante da Polícia Militar, coronel Machado, ressaltou a importância de essa linha de frente do governo estar empenhada no combate à fome. “Essa falta de alimento e de emprego faz com que muitos jovens sejam cooptados pelo narcotráfico, no interior e na capital. Fico feliz de ver a oportunidade de emprego e renda que esses jovens estão tendo nas EFAs”, disse o coronel. “Espero que o município reconheça os bons gestores e não traga de volta os maus. É muito preocupante o crescimento da criminalidade”, frisou.
“Nós temos na nossa corporação um programa educacional de resistência às drogas e à violência”, acrescentou o coronel Ivanildo, comandante da PM da Região Sudoeste, em Vitória da Conquista. “Como esse programa não é somente voltado para escolas públicas e particulares, nós iremos implantá-lo aqui nessa EFA também”, concluiu.
Fonte: Ascom/Bahia Sem Fome