Quase quatro mil instituições sociais já foram cadastradas no Programa Bahia Sem Fome (BSF) para receber as doações de alimentos e fazer com que cheguem de modo mais rápido às pessoas que estão em situação de fome grave nas diversas regiões do estado.
Dentro do programa Ciência na Mesa, promovido pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Governo do Estado, a Escola de Nutrição da Universidade Federal da Bahia (UFBA) reuniu pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento para identificar os grupos populacionais vulneráveis à fome, mapeando as áreas de maior risco na Bahia.
“Desde o lançamento do Programa, uma das grandes dificuldades para se promover mudanças nos modos de produção, acesso e consumo de alimentos é saber exatamente onde estão localizadas as pessoas, os grupos e as comunidades em situação de vulnerabilidade alimentar. Nós, da Escola de Nutrição, fomos o grupo que analisou os dados sobre a fome na Bahia e apoiamos a elaboração do primeiro relatório do inquérito de insegurança alimentar no estado”, conta a nutricionista e professora da Escola de Nutrição da UFBA (ENUFBA) Sandra Maria Chaves.
A ideia, segundo ela, é reestruturar nas regiões vulneráveis à fome um sistema alimentar que garanta a alimentação saudável para todos, contemplando etapas como a produção, o processamento, a comercialização e o consumo de alimentos.
“É nessa perspectiva de combate à fome e promoção da segurança alimentar e nutricional, entre agricultores familiares e consumidores, que os pesquisadores estão em campo levantando informações em nível domiciliar, identificando as regiões onde a falta de água compromete a produção de alimentos (através de escala de insegurança hídrica) e avaliando como as experiências relacionadas à crise ambiental (mudanças climáticas, perda da biodiversidade e poluição) em comunidades tradicionais contribuem para insegurança alimentar e hídrica”.
Propostas de Soluções
Durante apresentação do programa Ciência na Mesa, em abril deste ano, a professora Sandra Chaves e uma equipe de oito pesquisadores apresentaram ao governo do estado algumas propostas de soluções para erradicar a fome, como a formação de agricultores familiares, o estímulo à produção de alimentos saudáveis (que vem da agroecologia, da agricultura familiar e da pesca artesanal) e o estabelecimento de um programa de agricultura urbana e periurbana nos municípios.
“Também pensamos no desenvolvimento de técnicas de processamento e conservação de alimentos; estabelecimento de uma cesta básica regionalizada no estado, que considere produtos de origem agroecológica; incentivo aos quintais produtivos e hortas comunitárias; ampliação das cozinhas comunitárias e redução do desperdício; entre várias outras ações”, destacou a nutricionista.
Sobre a questão da cesta básica, Sandra Chaves lembra que em 1938, o então presidente Getúlio Vargas criou comissões para definição do valor do salário mínimo e uma delas foi a Comissão Nacional de Alimentação, presidida pelo professor Josué de Castro (autor do livro Geografia da Fome). “Ele (Josué de Castro) definiu os 13 alimentos da cesta básica para todo o Brasil e o custo para definir o valor do salário mínimo. Essa cesta de 13 alimentos é que orienta a Fundação Getúlio Vargas para definir o valor da cesta básica ainda hoje no Brasil”, diz a pesquisadora, perplexa. “Alguns estados e alguns municípios já fizeram alteração dessa cesta, mas ela está completamente desatualizada, era outro Brasil em 1938”, diz, observando que “a cesta atual não tem um produto agroecológico” e que “irão realizar pesquisas e estudos de consumo alimentar para desenhar uma nova cesta básica”.
Em Belo Horizonte (MG), segundo ela, foi proposta uma cesta básica que “não é somente de alimentos, mas composta por itens relacionados com higiene pessoal, higiene da casa, num conceito mais amplo”.
Fonte: Ascom/Bahia Sem Fome